Ok, pausa na ironia e no deboche das minhas últimas postagens...Vocês devem estar lembrados que faz uma ou duas semanas o Oneplusone postou o All Things Must Pass. O que vocês não sabem é o que essa postagem causou aqui pelos lados do velho Yerblues.
É preciso dizer que esse disco (como de resto tudo o que o George fez) era muito, muito importante pra uma querida amiga minha, Paula Moraes. Fosse eu contar quantas vezes ouvimos juntos All Things Must Pass... e sempre descobríamos coisas novas no disco... porque sempre haverá coisas novas a se descobrir naquilo que amamos, coisas feitas pra serem partilhadas com quem amamos... Ouvíamos de tudo, é verdade, de Jayhawks a Cartola; de João Donato a Allman Brothers; de Wilco a Sérgio Sampaio... mas todas as coisas passavam e acabávamos invariavelmente em All Things Must Pass...
Em 2000, o disco foi relançado com a pompa e circunstância merecidas, e uma vez mais lá estávamos nós, ouvindo em êxtase All Things Must Pass, edição estendida, cujo exemplar ganhei de presente de Paula. Um ano depois, as notícias não seriam boas, e choramos juntos, abraçados, diante do previsível e do inevitável: George se foi.... Paula e eu sentimos muito o baque, mais até do que quando soubemos da morte do John... de alguma maneira, o George era mais íntimo, menos herói, por isso mais humano... mas tínhamos a música, e a música a tudo supera; a música ajuda a tudo superar.
Em 2003, eu e minha mulher tivemos uma filha, e não tive nem dúvida sobre qual nome lhe dar: Paula. A vida sorria novamente e partilhamos novos e muitos momentos felizes, de pura contemplação e comunhão, tudo ao som de I Dig Love, I’d Have You Anytime, vocês sabem o tracklist...
Mas tão súbito como veio a minha filha Paula, em 2003, foi-se a minha amiga Paula, em 2006... e desde então eu não ouvia esse disco... All Things Must Pass era - é, e sempre será! - um disco muito associado a essa amizade, cuja perda eu ainda não assimilei totalmente...
Então, quando o Fernandão postou o disco, eu pensei: pô, não posso seguir nessa, não é isso que a Paula gostaria que eu fizesse. Esse disco é uma celebração da vida, não da morte... (enfim, essas explicações que a mente bola pra superar as perdas)... E baixei o disco, como se a impessoalidade do download fosse menos sofrível do que o ato físico de pegar o cd nas mãos, olhar a arte gráfica, colocá-lo no player pra tocar e ficar na expectativa dos primeiros acordes...
Bom, como já esperava, ouvir o disco pela primeira vez depois de tanto tempo foi dose... mas depois de uma semana ouvindo All Things..., o que ficou foi aquela tristeza-alegre, aquela melancolia boa, sem dor, a velha e boa trilha sonora das coisas e dos momentos bons que eu e minha amiga vivemos juntos.... mais: descobri que tudo que poderia querer dizer sobre meu lance com Paula estava nas letras do disco que tantas vezes escutamos juntos...
"Deixe-me entrar,
Você sabe que estou aqui.
(adaptação livre de trecho de I’d Have You Anytime)
Deus meu, como eu queria ver você,
Como eu queria estar com você.
(adaptação livre de trecho de My Sweet Lord)
Ando sempre pensando em você
E em todas as coisas que fazíamos juntos.
(adaptação livre de trecho de Wah-Wah)
Não é uma pena?
(adaptação livre de trecho de Isn’t It a Pity)
O que sinto, não posso traduzir em palavras,
Porém, o meu amor é seu a qualquer momento de qualquer dia.
(adaptação livre de trecho de What is Life)
É tempo de começar a sorrir novamente.
Afinal, o que mais podemos fazer?
(adaptação livre de trecho de Behind That Locked Door)
E embora você esteja em outro lugar,
Eu sempre poderei sentir a sua presença aqui.
(adaptação livre de trecho de Let It Down)
E eu vejo o que dizem seus olhos,
Embora esteja ao seu lado.
(adaptação livre de trecho de Run of The Mill)
Ando com algum cuidado,
Especialmente com os dançarinos do caos.
(adaptação livre de trecho de Beware of Darkness)
Porque há muita coisa que eles não sabem.
Eles não sabem da maçã.
(adaptação livre de trecho de Apple Scruffs)
Mas deixo rolar.
(adaptação livre de trecho de Ballad of Sir Frankie Crisp)
Você sempre me disse,
As coisas devem passar.
(adaptação livre de trecho de All Things Must Pass)
E embora eu percebesse seu amor,
Sabia que chegaria um tempo em que um de nós partiria.
(adaptação livre de trecho de Art of Dying)
E no fim de nossas duas estradas,
À minha esquerda e à minha direita,
Acima e abaixo de mim,
Dentro de mim e ao meu redor,
Não haverá um lugar sequer em que você não esteja presente.
(adaptação livre de trecho de Hear Me Lord)"
Minhas duas Paulas, num dos momentos perfeitos que a vida me reservou.Esse volume especialíssimo das Yerblues Covers é um tributo ao George, é claro, mas também o marco que levanto em homenagem a esta grande pessoa e grande amiga que foi Paula Moraes. É a maneira que encontrei de sair do luto e dizer à minha querida amiga: love you, baby & see you soon....
Yerblues.
Tracklist nos comments.
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