segunda-feira, 5 de outubro de 2009

The Kinks: Discografia (I)



Kinks: Primeiro Album (1964)

Uma banda que por muito, muito tempo mesmo, pensei em postar aqui no SdN: Os Kinks. Minha dúvida era simples - por onde começar, por qual disco, pois a carreira dos Kinks foi marcada por muitas mudanças de estilo, abrangendo desde o rock mais ou menos básico (explicarei depois esse "mais ou menos") dos primeiros discos, passando por albuns conceituais (quando nem se falava disso) e até experiências de rock-teatro (?), continuando com canções mais voltadas para o mercado americano, mais diretas e "marcadas". Ou seja, se minha primeira postagem fosse por exemplo o album "Soap Opera", iria ficar difícil entender alguma coisa se o próximo post fosse o "Give The People What They Want". São conceitos completamente diferentes.

O post ( http://seres-da-noite.blogspot.com/2009/08/quintalive-kinks-bbc-sessions-1964-1977.html ) é uma amostra disso, dessa disparidade de estilos e sonoridades, e também teve (o post citado) o mérito de apresentar para muitos que não conhecem a banda, um panorama do que foi (é) o som dos Kinks.

O excelente texto escrito pelo Yerblues serviu adicionalmente para me liberar de escrever (preguiça), ou explicar, muitos aspectos da carreira dos Kinks, que são uma banda de fato única no cenário, ainda mais se comparada com os colegas de british invasion do início/meados da década de 60. E isso por um motivo básico: ao contrário de por exemplo, Beatles, Stones, Animals, The Who e tantos outros, os Kinks, ainda que obviamente influenciados pelos usuais artistas americanos de rock & roll, rhythm & blues, blues, country, e etc. sempre foram uma banda INGLESA, cantando sobre os hábitos e a cultura INGLESAS. Por exemplo, enquanto quase todo o mundo no rock, em 1967, estava numa de psicodelia, Make Love Not War e etc., os caras estavam cantando sobre a ponte de Waterloo, preservação do meio ambiente, migração para a Austrália e valores tradicionais ingleses. Ao que consta, nunca foram a Haight-Ashbury, nem peregrinaram aos estúdios da Chess Records. Pouca mudança, também, na indumentária - sem cordões ou roupas indianas. Falando assim, até parece que estamos lidando com um bando de caretas, porém nada mais longe da verdade.
E eles arriscaram: após o estouro de 'You Really Got Me' e 'All Day and All of The Night' Ray Davies não se aferrou à fórmulas de sucesso, o que sem dúvida afastou ao longo do tempo os fãs mais 'genéricos' da banda. Pior ainda: por motivos nunca esclarecidos, foram banidos por anos de excursionar nos Estados Unidos. Suspeita-se, por falta de motivo mais concreto, que os pileques e as constantes brigas que aconteciam no palco (principalmente entre Dave Davies e Mick Avory) tenham levado o Sindicato dos Músicos americano ao banimento, mas ninguém sabe ao certo.
Proibidos de excursionar por vários anos e lançando canções que pouco diziam ao público americano (ou brasileiro, japonês, norueguês, o que seja), as vendas estagnaram nos EUA, embora continuassem estáveis na Inglaterra e Europa.

Isso continuou até 1977, quando assinaram com a gravadora Arista. Os discos passaram a trazer canções um pouco mais "globais", e eles transformaram-se em atrações nos grandes circuitos americanos de shows, sem perder no entanto a qualidade.

Isto posto...

A proposta aqui é a de trazer, aos poucos, a discografia completa dos Kinks, inclusive de vários shows disponibilizados em bootlegs. Não é no entanto, e muito longe disso, minha intenção de abrir um curso "lato sensu/MBA" à Distância em Kinks aqui no SdN. Espero, isso sim, que seja legal podermos acompanhar a evolução do som do grupo.

Conheci (de fato) o som dos Kinks em 1972. Antes disso, já havia escutado 'You Really Got Me' sem saber de quem era e visto anúncios na Melody Maker inglesa, dos albuns (um duplo e um simples) "Preservation Act". E só. Num belo dia, um amigo foi num sebo e depois apareceu em minha casa com o "Everybody's In Show Biz, Everybody's Is a Star", edição brasileira, disco simples (o original importado é duplo, um LP ao vivo, outro de estúdio), e de cara, pintou aquela interrogação. O que é isso? uma mistura de estilos única, até acompanhamento de bandinha de metais típica de teatro decadente, tinha por lá. As músicas também cantavam sobre antigos astros de Hollywood, outras sobre a horrível comida de beira de estrada ('Motorway food is the worst in the world...'). Mas tudo era rock, sem dúvida, e aquele disco virou um vício, sendo seguido logo depois pela compra do "Something Else By The Kinks" e do "Live Kinks" (também conhecido, com outra capa, como "The Kinks At The Kelvin Hall"). Os outros albums foram chegando, via golpes de sorte, redes de "informantes", e quase todos achados nos benditos sebos da vida e nas importadoras (também em balcões de saldo).

Os CDs, anos depois, permitiram a composição da discografia completa (ou quase isso) dos caras, acompanhados de faixas bonus valiosas e de discos que eram virtualmente impossíveis de serem achados em vinil, como o "The Great Lost Kinks Album".

E quanto ao post: este "The Kinks" é o primeiro album da banda, tendo já várias composições de Ray Davies; porém, como "segurança" de vendas (inclusive no mercado americano), os usuais covers de R&B e Rock'n'Roll estão presentes.
Mas não era rock tão básico assim, pois nas músicas originais apareciam, aqui e ali, ainda meio escondido, o talento único de Ray, o contador de histórias, The Storyteller.
No time de músicos de apoio em estúdio, temos Nicky Hopkins, Jon Lord e Jimmy Page; no caso deste último, a banda negou algumas vezes a participação no disco.
Acho que essa negação da presença de Jimmy deveu-se a alguns rumores de que na realidade foi ele quem tocou o riff de 'You Really Got Me', coisa que sempre deixou Dave Davies pra lá de, digamos assim, irritado.

Um dado interessante é que esse disco saiu em parte, no Brasil, sob a forma de compacto (gravadora Musidisc, que representava a Pye Records aqui). Incrível mas é verdade: os caras conseguiram colocar 10 das músicas originais, 05 de cada lado do disquinho! Claro que a qualidade dos som foi pras cucuias. Tenho uma cópia dessa preciosidade.

Band members:
de acordo com a Wikipedia, o line-up para "The Kinks" é o abaixo indicado.

Ray Davies – guitar, harmonica, keyboards, lead vocals
Dave Davies – guitar, backing vocals
Peter Quaife – bass, backing vocals
Mick Avory – tambourine, drums
Jimmy Page – twelve string guitar, acoustic guitar
Jon Lord – piano
Bobby Graham – drums

*Conforme informado pelo colega Mario, o AllMusic Guide apresenta um line-up um tanto diferente. Segue abaixo (incluí o Dave Davies que de fato tocou no disco):
Mick Avory - Percussion, Drums
Ray Davies - Guitar, Harmonica, Vocals
Dave Davies - guitar(lead), vocals
Perry Ford - Piano
Bobby Graham - Drums
Arthur Greenslade - Piano
Jon Lord - Organ
Peter Quaife Bass, Vocals (back)


Produzido por Shel Talmy (também produziu o The Who, dentre outros artistas, por muitos anos)

Track List:
1. "Beautiful Delilah" (Chuck Berry) – 2:07
2. "So Mystifying" – 2:53
3. "Just Can't Go to Sleep" – 1:58
4. "Long Tall Shorty" (Herb Abramson, Don Covay) – 2:50
5. "I Took My Baby Home" – 1:48
6. "I'm a Lover Not a Fighter" (J. Miller) – 2:03
7. "You Really Got Me" – 2:13
8. "Cadillac" (Bo Diddley) – 2:44
9. "Bald Headed Woman" (Trad/Arr Shel Talmy) – 2:41
10. "Revenge" (R. Davies, Larry Page) – 1:29
11. "Too Much Monkey Business" (Chuck Berry) – 2:16
12. "I've Been Driving On Bald Mountain" (Trad/Arr Shel Talmy) – 2:01
13. "Stop Your Sobbing" – 2:06
14. "Got Love If You Want It" (J. Moore) – 3:46
15. "Long Tall Sally" (Robert Blackwell, Enotris Johnson, Richard Penniman) – 2:12
16. "You Still Want Me" – 1:59
17. "You Do Something to Me" – 2:24
18. "It's Alright" – 2:37
19. "All Day and All of the Night" – 2:23
20. "I Gotta Move" – 2:22
21. "Louie, Louie" (Richard Berry) – 2:57
22. "I Gotta Go Now" – 2:53
23. "Things Are Getting Better" – 1:52
24. "I've Got That Feeling" – 2:43
25. "Too Much Monkey Business" [Alternate Take] (C. Berry) – 2:10
26. "I Don't Need You Any More" – 2:10

Todas as composições, exceto quando indicadas, são de Ray Davies.

as faixas de 15 a 26 são bonus do CD, relançamento de 2004.



[RS] [85MB @192kbps CBR]

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