terça-feira, 16 de março de 2010

Mike Bloomfield ao vivo dispensa comentário


Mais uma postagem em que eu não vou falar nada (e de um disco ao vivo novamente; acho que preciso dar uma pausa nos alive, mas como o meu estoque é grande e gosto dos álbuns, não sei não... pressinto que vou continuar). Desta vez, entretanto, não só para obedecer à correta orientação looseana (“em boca fechada não entra mosca”), mas também porque o disco é autofalante (é, taí um bom neologismo para a cena musical... como sinônimo de auto-explicativo). De mais a mais, basta ler (sim, é pra isso que serve) a biografia do Michael Bloomfield, estampada adiante, contando a fantástica trajetória do guitarrista, para se ter certeza de que qualquer comentário aqui (mas não ali embaixo) é desnecessário (*). Então, como diria o famoso sociólogo e ex-primeiro senhor dos trópicos, Fernando Henrique “esqueçam o que eu escrevi” Cardoso: chega de nhenhenhém e vamos ao que interessa.













Mike Bloomfield (2008) Live At The Old Waldorf (San Francisco, CA, 1976/1977)

Músicas:
1. Blues Medley: Sweet Little Angel/Jelly Jelly (Bihari, Eckstein, Hines, King) 7:45
2. Feel So Bad (Hopkins, Hopkins, Willis) 4:26
3. Bad Luck Baby (Gravenites) 5:52
4. The Sky Is Cryin’ (James) 5:53
5. Dancin’ Fool (Gravenites) 3:49
6. Buried Alive In The Blues (Gravenites) 4:55
7. Farther Up The Road (Robey, Veasey) 3:16
8. Your Friends (Malone) 7:18
9. Bye, Bye (Gravenites) 4:25
Músicos:
Mike Bloomfield: Guitar
Mark Adams: Harmonica
Barry Goldberg: Organ (Hammond)
Nick Gravenites: Guitar (Rhythm), Vocals
Bob Jones: Guitar, Vocals
Mark Naftalin: Piano
George Rains: Drums
Roger Troy: Bass, Vocals
(Line-up retirado do site allmusic)


[FU] [104MB @320kbps]

A biografia de Michael Bloomfield, que segue, em versão livre do inglês, foi escrita por Jan Mark Wolkin e extraída do site oficial do músico; aliás, quem tem alguma dúvida sobre a primorosa carreira do biografado, aconselho uma olhadinha na sua “pequena” discografia, lá catalogada; isso que o cara viveu apenas 38 anos...
Michael Bloomfield Bernard nasceu em 28 de julho de 1943, em Chicago, Illinois. Um estudante indiferente e autodenominado um pária social, Bloomfield mergulhou no mundo multicultural da música que havia em Chicago na década de 1950.
Ele ganhou sua primeira guitarra aos 13 anos. Inicialmente atraído pelo rock de Elvis Presley e Scotty Moore, Bloomfield logo descobriu o eletrificado blues nativo de Chicago. Com 14 anos, o exuberante prodígio da guitarra começou a visitar os bares de blues no sul de Chicago com o amigo Roy Ruby, em busca de seus novos heróis: músicos como Muddy Waters, Otis Spann, Howling Wolf e Magic Sam. Não contente em assistir as exibições na platéia, Bloomfield era conhecido por pular para o palco, perguntando se podia sentar-se e simultaneamente conectar sua guitarra e começar a tocar os riffs.
Bloomfield foi rapidamente aceito na zona sul, tanto por sua habilidade quanto pela novidade de ser um músico branco jovem tocando numa parte da cidade onde poucos brancos eram avistados. E ele logo descobriu um grupo de vagabundos com os quais se identificou. Jovens músicos brancos, como Paul Butterfield, Nick Gravenites, Charlie Musselwhite e Elvin Bishop também estavam procurando seus espaços, como fãs de bluesmen conhecidos, muitos dos quais tinham idade suficiente para serem seus pais.
Além de tocar com as estrelas da vez, Bloomfield começou a procurar os bluesmen mais velhos, tocando e gravando com Sleepy John Estes, Yank Rachell, Little Brother Montgomery e Big Joe Williams, entre outros. A esta altura, ele estava administrando um bar de Chicago de música folk, o Fickle Pickle, e frequentemente contratava velhos tocadores de blues acústico para as sessões de terça-feira à noite. Big Joe Williams celebrou aqueles tempos na canção “Pick A Pickle”, com a frase “Você conhece Mike Bloomfield... sempre tratará você bem... venha para o Pickle toda terça à noite”. O relacionamento de Bloomfield com Big Joe Williams está documentado em “Me And Big Joe”, um curta-metragem comovente, detalhando as aventuras de ambos na estrada.
O trabalho de Bloomfield como guitarrista chamou a atenção de John Hammond Sr., legendário produtor e caça-talentos da CBS, que voou para Chicago e imediatamente o contratou. No entanto, a CBS não sabia exatamente como promover o seu novo artista, recusando-se a lançar qualquer uma das faixas gravadas pela banda de Bloomfield, que incluía o gaitista Charlie Musselwhite.
Com um contrato, mas não muito mais do que isso, Bloomfield voltou a tocar em bares de Chicago até ser abordado por Paul Rothchild, produtor dos álbuns da Paul Butterfield Blues Band. Bloomfield foi recrutado para tocar slide guitar e piano em gravações antigas (mais tarde lançadas como “The Lost Elektra Sessions” – comentário meu: o disco já foi postado aqui no SdN), que foram rejeitadas por não captarem fielmente o som da banda. Embora mais competidores do que amigos (“Eu conheci Paul [e eu] tinha medo dele”, lembrou Mike), a adição de Bloomfield à Butterfield Band colocou Paul Butterfield ao lado de um músico de igual calibre – Paul e Michael inspiraram-se e desafiaram-se mutuamente, assim como trocavam riffs e idéias musicais, um estabelecendo um padrão e o outro o seguindo, aprimorando-o e entregando-o de volta.
Entre as sessões de gravação com a Butterfield Band, Bloomfield colaborou com Bob Dylan no clássico álbum “Highway 61 Revisited” e apareceu com ele no Newport Folk Music Festival de 1965, quando Dylan chocou o público purista de música folk ao tocar rock and roll eletrificado (nota minha: tenho sérias dúvidas acerca da afirmação; tanto quanto sei, a irritação do público decorreu do fato de Bob Dylan ter usado guitarra elétrica ao invés de violão acústico; mas a música, ao que me consta, não era rock and roll [acredito que, naquela época, início da sua carreira, Dylan nem sonhava em tocar rock algum dia]; era folk). Declinando uma oferta de Dylan para participar de sua banda de turnês, Bloomfield e a Butter Band retornaram ao estúdio; com a adição do pianista Mark Naftalin, eles finalmente capturaram seu som ao vivo em vinil.
Os dois primeiros álbuns da Butterfield Blues Band, as sessões com Dylan e as aparições ao vivo como músico da Butterfield Band consolidaram firmemente Bloomfield como um dos guitarristas mais talentosos e influentes da América. O segundo álbum apresentou a composição de Bloomfield, “East-West”, que marcou o início de uma era de longas improvisações instrumentais psicodélicas.
Bloomfield deixou a Butterfield Blues Band no início de 1967, ostensivamente para dar ao guitarrista original Elvin Bishop, nas palavras de Mike, “um pouco de espaço”. Mas, sem dúvida, ele também estava descontente com a posição de Paul Butterfield como bandleader e ansioso para liderar sua própria banda.
Essa banda, The Electric Flag, incluiu velhos amigos de Bloomfield de Chicago: o organista Barry Goldberg e o cantor e compositor Nick Gravenites, bem como o baixista Harvey Brooks e o baterista Buddy Miles. A banda foi bem recebida em sua estréia oficial no Festival Pop de Monterey, mas rapidamente se desfez, devido às drogas, aos egos e à má gestão.
Bloomfield, cansado da estrada, sofrendo de insônia e desconfortável no papel de astro da guitarra, voltou a São Francisco para compor trilhas sonoras para o cinema, produzir outros artistas e tocar em gravações de estúdio. Uma dessas gravações foi uma jam com o tecladista Al Kooper, que já havia trabalhado com Bloomfield em sessões com Dylan de 1965.
“Super Session”, o lançamento dali resultante, com Bloomfield e Stephen Stills repartindo as guitarras, mais uma vez impulsionou Bloomfield para a ribalta. A produção de Kooper e a improvisação natural das gravações capturaram o requintado som de Bloomfield: a execução rápida das notas, o incrível dedilhamento das cordas, o ataque preciso e o seu senso magistral de tensionar e distensionar.
Embora o “Super Session” tenha sido o disco de maior sucesso de sua carreira, Bloomfield o considerou uma fraude, um pretexto para vender mais discos em detrimento de uma busca de rumos musicais. Após um posterior álbum ao vivo, ele se “aposentou” em São Francisco e abaixou sua visibilidade.
Nos anos setenta, Bloomfield fez shows em São Francisco e raramente viajou com a Bloomfield And Friends, um grupo que normalmente era composto por Mark Naftalin e Nick Gravenites. Bloomfield também ajudou ocasionalmente os amigos, emprestando seu nome a projetos de gravações e propostas de negócios, como a infortunada reunião da Electric Flag em 1974 e o álbum da KGB em 1976. Em meados dos anos setenta, Bloomfield gravou vários álbuns, com enfoque no blues mais tradicional, para pequenas gravadoras. Ele também gravou, para a revista Guitar Player, um disco onde ensinava a tocar vários estilos de blues.
No fim dos anos setenta, problemas de saúde e as drogas levaram Bloomfield a um comportamento errático e a faltar aos shows, causando o afastamento de alguns dos seus antigos sócios. Bloomfield continuou a tocar com outros músicos, incluindo Dave Shorey e Jonathan Cramer. No verão de 1980 ele viajou para a Itália com o violonista clássico Woody Harris e a violoncelista Maggie Edmondson. Em 15 de novembro de 1980, Bloomfield se juntou a Bob Dylan no palco do teatro Warfield, em São Francisco, e fizeram uma jam de “Like A Rolling Stone”, a música que eles haviam gravado juntos 15 anos antes.
Michael Bloomfield foi encontrado morto em seu carro, em decorrência de uma overdose de drogas, em São Francisco, Califórnia, no dia 15 de fevereiro de 1981.

(*) Esqueçam o que eu escrevi (ué, onde é que eu ouvi essa frase?); é tudo mentira; a verdade é que a tradução da biografia do Mike Bloomfield me deu um trabalhão, que me tirou a mínima vontade de escrever alguma coisa a respeito do disco. Quem confessa merece perdão... ou não, Caetano?

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