Fade up: um Pontiac GTO, 1970, serpenteando supercool pelo pátio ensolarado da Lee High School, Austin, Texas. Um baixo anuncia Sweet Emotion como companheira mais-que-perfeita da imagem e em letras grandes na parte inferior da tela surge o título: “Dazed and Confused” (em português, com o risível título “Jovens, Loucos e Rebeldes”, huauhahuahua)... Último dia de aulas antes das férias de verão de 1976. Calouros, veteranos, atletas, nerds, losers, babacas, gatinhas, super-carros e uma trilha sonora sensacional fazem deste o segundo filme high school por excelência. O diretor Richard Linklater (que esteve em cartaz há algum tempo com Escola de Rock) promove uma verdadeira ode à adolescência sem esbarrar em nenhum momento no piegas ou no “excesso de realidade”. Retrata todos os personagens de uma maneira crua, mas inevitavelmente poética e sobretudo afetiva, sem julgamentos clericais. Ou seja, mesmo os losers e os babacas são mostrados com uma empatia insuspeita do diretor, que deixa entrever a possibilidade de redenção e/ou evolução para suas vidas miseráveis. Mas não espere um filme com aquele roteiro convencional, tipo início-meio-fim. Dazed & Confused tem como fio condutor um dia seminal na vida dos personagens retratados, os formandos às portas da vida adulta (ir ou não pra universidade, pagar contas e blá-blá-blás semelhantes) e os calouros à beira da perda da inocência. Não se preocupem os céticos de plantão, não se verá neste filme “adolescentes cometendo erros para no final aprenderem uma grande lição”. Não espere ver também a mensagem “não fume maconha, você ficará brocha e burro, ou vice-versa” (hehe), tão comum nos filmes do início dos ‘90s... alguns personagens realmente queimam tudo até a última ponta, mas em nenhum momento o filme assume ares de apologia às drogas ou faz do consumo um lance gratuito ou vulgar... em 1976, fumar mãe-natureza já estava tão inserido na cultura jovem, que fazer um filme da época sem retratar isso seria o mesmo que mostrar os anos 2000 sem computadores e internet (e convenhamos, para quem usava aqueles cabelinhos escorridos partidos no meio e aquelas calças boca-de-sino, dar uns tapas era até compreensível)... então, que o esquadrão anti-drogas não se preocupe, nada é escancarado em Dazed. O filme é muito divertido e Linklater o recheou com personagens tão carismáticos e cativantes que você (mesmo sendo um sarcástico incorrigível) fica sem saída, senão se identificar, simpatizar e embarcar na engraçada (e adorável) viagem de volta ao tempo em que Peter Frampton era deus e que Rock & Roll All Nite era a canção de onze entre dez adolescentes. Você me pergunta: como se identificar com personagens de uma outra cultura, de um tempo em que a maioria de nós nem mesmo éramos vivos? Eu respondo: você se pergunta isso quando ouve Whole Lotta Love e sente que aquele riff explica boa parte da sua existência? Certas coisas são universais e atemporais, e tentar conceituá-las racionalmente só faz acentuar o quanto de emocional há em nós. Ainda bem! Melhor momento da filmografia de Linklater até o momento. Há versão em DVD para a região 4, mas é pobrinha, pobrinha. Não importa, o filme é essencial de qualquer forma. Se você viveu a época, baixe, compre, mas não deixe de ver e ouvir Dazed & Confused. Tão especial para mim que já dediquei uma matéria inteira a este filme (para os raros interessados, ela está postada no Wiplash.net, na seção “matérias & ensaios”, clique AQUI).
Dazed & Confused
Tracklist e info AQUI
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