Premiata Forneria Marconi: Photos of Ghosts (1973)Hoje em dia não mais é um disco raro, gravado por uma banda conhecida somente por uns poucos iluminados. Mas quando esse album foi lançado, serviu como porta de introdução para esse grupo de som único, que conseguiu, graças ao talento de seus integrantes, fundir suas influências e criar música original, passando ao largo do rótulo de mera cópia de A ou B.
A versão (LP) americana de
Photos of Ghosts tinha capa dupla, tendo em seu interior uma foto colorida da banda caminhando, em uma daquelas velhas e úmidas ruas italianas, carregando pães (claro!) de diferentes formatos, bem como a reprodução das letras. Mauro Pagani à frente da fila, com uma mini-baguete, simulava tocar uma flauta.
Tendo em vista o recente fim do Geocities ("cortesia" do Yahoo), reproduzo abaixo um texto meu, escrito em 1997 e que fazia parte de um site lá hospedado, bastante simples, que mantive por vários anos, dedicado à música "Progressiva". Repito, o ano era 1997: nem se sonhava ainda com blogs, sites de compartilhamento, etc. Informações sobre grupos ainda eram conseguidas (quando se conseguia) na internet através de sites de admiradores, cujas URLs tinham em média uns 10 cm de comprimento; tudo era muito tosco para os padrões de hoje.
Sobre muitas bandas, quase nada se sabia. Estariam ainda ativas? perguntas assim, há 11, 12 anos, eram comuns.
O texto original segue na íntegra, sem alterações, atualizações, etc.
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Premiata Forneria Marconi
É interessante a quantidade de excelentes grupos progressivos oriundos da Itália. É uma pergunta que já fiz a mim mesmo, várias vezes. Por que na Itália, e não na Alemanha, França, ou Espanha, por exemplo? Claro que em todos esses países temos alguns bons grupos, em maior ou menor escala (você tem 5 segundos para citar uma banda Francesa... é difícil, exceto para as ratazanas das lojas especializadas), mas os Italianos realmente destacam-se.
Tradição em música clássica? Na Alemanha/Áustria tivemos Beethoven, a família Bach, Brahms, todos os Strauss (Joseph, Johann, Richard), Mozart, Wagner, Mahler, Schumann. Na França, Debussy, Ravel, Berlioz...Claro que os Italianos contribuiram com Vivaldi, Albinoni, Rossini, Vivaldi, Torelli...e também com a Ópera, gênero que durante alguns séculos (XVIII e XIX) era presença quase obrigatória no catálogo dos principais compositores (uma das exceções é a de Brahms, que jamais compôs nada no gênero, e outra é Beethoven, cuja ópera Fidélio parece ter tido um parto à fórceps).
É inegável, porém, que os Italianos são um povo (com o perdão do lugar-comum) extremamente musical, e provavelmente este fato, aliado ao gosto pela música clássica, tenha gerado uma combinação de ingredientes que possibilitaram a existência de centenas de grupos com qualidade bem acima da média de outros países - inclusive o próprio Reino Unido.
Coerentemente, vários grupos progressivos da Inglaterra sempre possuíram uma legião de admiradores na Itália. Muitas vezes praticamente ignorados pelos seus conterrâneos, bandas como Argent, Gentle Giant, Renaissance e Van der Graaf Generator eram (e são) idolatradas pelos Italianos. De fato, é meio difícil imaginar Peter Hammill tomando cerveja quente e jogando dardos num pub.
A Premiata Forneria Marconi (ou PFM) teve em sua formação original os músicos Flavio Premoli (teclados, vocais), Giorgio Piazza(baixo), Franco Mussida(guitarra, vocais), Franz di Cioccio(bateria, vocais) e Mauro Pagani(violino, flauta e vocais), quase todos oriundos de conservatórios. Já em seus primeiros albums percebia-se a excelência de seu instrumental e composições, a ponto de despertar a atenção da então recém-criada (1973) Manticore Records(pelos EL&P) que lhes ofereceu um contrato de gravação - daí originando-se o album Photos of Ghosts, co-produzido por ninguém menos que Peter Sinfield (ex-King Crimson) e autor das letras em inglês do disco. O Photos of Ghosts na realidade baseia-se largamente em faixas gravadas anteriormente pela Premiata, constantes dos albums italianos Per Un Amico e Storia de un Minuto, devidamente remixadas (algumas, regravadas) e às quais foram agregados os vocais em inglês, exceto na faixa Il Banchetto - cantada em Italiano! Fato esse bem indicativo do prestígio do grupo, posto que sabemos que nossos irmãos anglo-saxões possuem profunda ojeriza a qualquer coisa que não são capazes de entender (ao contrário dos Brasileiros, que adoram ouvir músicas das quais não entendem sequer uma palavra das letras).
O album a seguir, ainda pela Manticore, foi o The World Became the World, originalmente lançado na Itália como L'Isola di Niente, e que apresentava o baixista Patrick Djivas no lugar de Giorgio Piazza. Neste disco já se tornava possível perceber (embora de forma sutil) alterações na textura do som do grupo.
A Premiata nunca destacou-se pela qualidade de seu vocal, verdade seja dita. Tanto que no ano de 1975, foi convidado Bernardo Lanzetti para assumir o vocal principal. Naquele mesmo ano, saíram da Manticore Records, lançando pela RCA o album Chocolate Kings, e no ano seguinte o disco Jet Lag (este gravado nos USA). Lanzetti era uma espécie de sub-Peter Gabriel (precursor, portanto, do cantor-lenhador Fish do Marillion) e freqüentemente "passava do ponto" em seus
trinados e vibratos, o que, para mim pelo menos, originava uma sensação que oscilava entre o torpor e a irritação. Enquanto que o album Chocolate Kings, ao menos instrumentalmente era interessante (sem comparação, no entanto, aos trabalhos anteriores), o disco Jet Lag foi frustrante também neste ponto. Pior: não contavam mais com Mauro Pagani, substituído pelo violinista Gregory Bloch, totalmente burocrático. Sem preconceitos, por favor, mas o que esperar de um disco da Premiata gravado na Califórnia?
Acho que os membros do grupo tiveram a mesma sensação de direção errada, pois a partir daí deram uma guinada radical em sua carreira: Voltaram para a Itália, abandonaram quase totalmente o lado "progressivo" de sua música, assumiram novamente os vocais em sua língua original e convidaram o violinista/tecladista Lucio Fabri para o lugar de Greg Bloch.
Franz di Cioccio, tal e qual Phil Collins, assumiu os vocais e a posição de front-man do grupo. Seus discos, a partir daí, tiveram um cunho "back to the roots", e em sua maioria são simpáticos e razoáveis (Suonare Suonare, por exemplo), porém sem grandes novidades ou ousadias.
Gravaram (1976), na condição de banda de apoio, dois discos ao vivo com o compositor Fabrizio di André, e pelas últimas notícias, parece que estão retornando à ativa depois de um longo e discreto período de poucas atividades.
De qualquer forma, a Premiata Forneria Marconi é sem dúvida uma magnífica exceção no panorama progressivo mundial. Grupo detentor de grande capacidade técnica e criativa, sua música influenciou profundamente vários grupos, inclusive Brasileiros (Bacamarte, por exemplo).
P.S: Há uns quatro anos atrás, assisti, pela TV, ao Lucio Fabri dirigindo a orquestra no festival de San Remo. Não é por nada, mas as músicas das quais ele foi o arranjador e condutor musical foram as melhores do festival...
Track List (CD) e Line Up:1. River of Life (6:56) *2. Celebration (3:50) **3. Photos of Ghosts (5:20) *4. Old Rain (3:40) ***5. Il Banchetto (8:34) ****6. Mr. 9 Till 5 (4:07) **7. Promenade the Puzzle (7:35) *Mussida, Pagani, Premoli, Sinfield *Mussida, Premoli, Sinfield **
Premoli ***
Mussuda, Pagani, Premoli ****
- Franz Di Cioccio / drums, vocals- Franco Mussida / electric and acoustic guitar, vocals- Mauro Pagani / flute, violin, vocals- Giorgio Piazza / bass- Flavio Premoli / keyboards, vocalsProduzido por PFM & Peter Sinfield [RS] [58MB @192kbps CBR]