domingo, 5 de abril de 2009

Blitz no Baú [by Yerblues] - Iggy Pop

Hospedagem e Texto: Yerblues
Montagem: Ser da Noite



Iggy Pop (1998) Live: King Biscuit Flower Hour
[Hard Rock]

Personnel:
Iggy Pop - Guitar, Vocals
Andy McCoy - Guitar
Seamus Beaghen - Keyboards
Alvin Gibbs - Bass
Paul Garisto - Drums

Tracks:
1. Instinct 4:07
2. Kill City 2:48
3. 1969 2:43
4. Penetration 2:40
5. Power and Freedom 4:29
6. High on You 6:16
7. Five Foot One 3:47
8. Johanna 2:43
9. Easy Rider 4:51
10. Tuff Baby 4:31
11. I Feel Alright (1970) 4:31
12. Winners and Losers/Scene of the Crime 6:22
13. Search and Destroy 3:37
14. Cold Metal 3:11
15. Squarehead 5:03
16. No Fun 4:02
17. I Wanna Be Your Dog 4:21


[SB] [153MB @320kbps]

Você tá andando a esmo, olhando pro nada que se descortina diante da mira ... nenhum sonho te habita mais, só velhas memórias sujas te beijam, como o ar poluído que te esbofeteia a cara... o sangue bombeia nas têmporas e os músculos se contraem no espasmo vital... recôndito, quase soterrado por camisa, gravata, calças e cuecas, um comichão gostoso no meio das pernas te dá aquela vontade de pegar no pau e ficar brincando com ele ali mesmo.... Instinct... e você pensa: putz, seria bom comer alguém agora... não precisava ser a Monica Belucci, não precisava nem ser a gostosa do bairro... podia ser aquela filha-da-putinha do 502 que fica se insinuando no elevador pra você quando sua mulher e os teus filhos te acompanham, mas que quando você calha de estar só e a encontra, ela finge não saber de nada... Tuff baby... Uma lufada de vento quente traz o cheiro de lixo e cachorro-quente, sangue e açúcar, pecador e inocente... it’s Kill City, man... um engulho te entorta a barriga e corta o pensamento pagão, trazendo de volta a realidade impiedosa, você tá buscando o leite das crianças... trabalhando, movendo a roda da fortuna (dos outros).... rolling, rolling down the river... as crianças, Deus meu, as crianças... puta merda, você já é pai... o que você vai fazer com aqueles três??? Você que nunca soube o que fazer com a própria vida... e você continua a andar, no automatismo rotineiro, vindo do ontem, indo pra algum lugar que nem você sabe ao certo... with no one cool to save you... súbito, os nervos se crispam, você cruza com uma gostosa mas quer evitar olhar pra trás, pra dar aquela esgueirada na presumida bundona, polidinho desgraçado, animal domesticado... I’m (still) a man, I know what I want.. gonna take some nerve to get it... o instinto é mais forte, e você se entrega a mais um pequeno e doce pecado: olha pra trás com a canastrice desavergonhada dos velhos eternamente safados.... ah, aquela bunda... I feel alright, I feel alright... é incrível como aquela simples visão faz você se desconectar de tudo, como se fosse um grande e gordo baseado sorvido com a sofreguidão do junkie, no caos das sinapses... I’m getting high on you.... carne, ossos, nervos e sangue pululam... não tente explicar... é tudo que você tem... é tudo que você é... a sua herança e o seu legado... I wish life could be Swedish magazines... mas aquilo te leva à inevitável lembrança: a mulher que te fodeu como se você fosse superman... Johanna... e você deixou essa pérola escorregar por entre seus dedos, qual dados jogados numa mesa só de perdedores... I hate you, baby.... essa merda toda te sufoca e você para num canto da rua e afrouxa o nó da gravata sob os olhares desaprovadores dos gravatinhas como você... squareheads... você divisa seu carro, ele é quase uma bóia no meio do oceano.. você corre pra dentro dele, procurando refúgio no cold metal... vira as chaves da máquina e sai em disparada, fugindo, fugindo..fugindo pra casa... easy rider do subúrbio... I feel alright, I feel alrigh... I Just want to feel alright... o que te resta pra destruir agora, filho-da-puta??? No fun to be alone... feelin’ the same old way... freaked out for another day, urra Iggy nos falantes... logo você sai do transe e começa a reconhecer as paisagens, confortáveis visões fugazes que fazem parte da sua estática vida.... você chega em casa, vira as chaves na porta.. pela milionésima vez??? você repete I feel alright... as crianças não chegaram, sua mulher não chegou...come on, come on, come on... você abre uma cerveja e se deixa cair no velho sofá... esboça uma punheta pensando na gostosona com que cruzou na rua, mas ela já não é mais que um borrão na memória perdida do dia... você acende o último cigarro do maço... sua mulher chega, passa a mão nos teus cabelos, e você sente o agridoce perfume da vida inebriar suas narinas até o talo... now I’m ready to close my eyes... você não resiste... take my arms... take my hands... seu último pensamento antes de apagar é it’s gonna be alright... it’s gonna be alright...
Yerblues

3 comentários:

Yerblues disse...

Pessoal, sorry pela deprê... esse é mais um dos meus blá-blá-blás exorcizantes, motivados pela perda de um grande amigo recentemente. Amigo que, aliás, curtia muito o Iggy... saravá, Johnny.

Anonymous disse...

Caraca, quer dizer que o cara entra aqui e dá um depoimento, talvez exageradamente crítico ou abusado, à ponto de o autor ter que excluir? É dureza... Que é isso Mr. Yerblues. Nao tem que explicar e se desculpar por nada não. O Post é seu, escreve o que está sentindo no momento e todos devemos respeitar. Afinal, és um cronista nato. Eu olho pelo lado positivo, talvez porque eu esteja passando por fase semelhante ao "personagem" da historia. Nao, eu nao perdi nenhum ente querido, mas meu amigo, eu olho, e como olho direto para todas as bundas que passam por mim... bom, nao vou me alongar, gostei de tudo, mas em especial aquela passagem do "easy rider do subúrbio"... caramba, assisti no fim de semana pela enésima vez Peter Fonda em EASY RIDER...aquelas motos, aqueles baurets, aquelas viagens...e tudo que eu quero quando me aposentar. Abraços.

Yerblues disse...

Beleza, anônimo, obrigado pela força e pelos elogios. Pois é, não somos todos, em maior ou menor medida, voyeurs??? Nestes tempos velozes, perder 1 (um) amigo (e de forma tão estúpida) é algo irrecuperável... Afinal, amizade e gentileza são artigos cada vez mais escasso neste "mundo competitivo", não? Enfim, cadê o analista de Bagé, porra??? huahuahuahuahua...