quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

E a História começa....

By Guilherme Rodrigues (Yerblues)

Zoooooooommmmm... Um silvo intenso invade meus ouvidos... abro os olhos e sou atingido por uma explosão de luz, o que me leva a fechá-los de novo, involuntariamente.... Depois, tentativamente, olho para o relógio buscando uma referência qualquer, ainda sonolento, completamente atordoado pelo barulho e pelo clarão que me despertaram... 2 da manhã, marcam os ponteiros... eu estou sentado numa cadeira próximo à janela que dá para a asa direita do avião, e mal posso crer no que vejo, após os segundos que levei pra organizar minimamente os pensamentos: uma das turbinas do avião estava completamente em chamas... quase imediatamente a nave começou a sacolejar... tranqueiras mil começaram a cair dos mini-compartimentos acima das poltronas... gritos ora abafados, ora em semi-desespero aqui e acolá... caos total... o comandante avisa, tardiamente, que o avião passará por zona de turbulência... com uma turbina pegando fogo? Olho para o lado e vejo John Lennon, lívido... Súbito, tudo me vem à mente de uma vez, como se estivesse fazendo o caminho inverso ao normal, sendo tragado da realidade para dentro do sonho: eu estou no Electra que carrega os Beatles e sua entourage pela turnê americana, e pelo visto a próxima escala vai ser no inferno... swwwwwwoooooosssssshhhhhhhh... novo silvo, tapo os ouvidos instintivamente, máscaras de oxigênio caem, meu estômago vem pra boca, o avião embica e mergulha no vazio....


E pensar que há apenas alguns meses eu estava passando o diabo em Nova York...


Cap. I - Introducing....

Naqueles últimos dias de 1963, eu estava na lona, trabalhando muito, ganhando muito pouco, e debaixo de um frio que Deus dava... Pelo que me lembrava, nunca nevara tanto em Nova Iorque. Vivia num apê, na verdade um caixote embolorado e com péssima calefação, em Flushing, no Queens, próximo algumas quadras do futuro Shea Stadium. Era longe uma barbaridade de Manhattan, onde eu trabalhava, mas tinha sido o único lugar em que conseguira um aluguel à altura do meu salário.

E como a neve que caía sem dó sobre nossas cabeças naquele fim de ano, também pairava uma borrasca sobre o país. Lyndon Johnson continuava mandando nos USA, e os senhores da guerra continuavam mandando em Lyndon Johnson. Ele não se meteria a besta, afinal era texano e se lembrava bem o que tinha acontecido na sua Dallas, apenas algumas semanas antes. A América ainda estava em estado de choque pelo brutal assassinato do presidente Kennedy. Logo viria a ser anestesiada pela plácida utopia sócio-educacional da Grande Sociedade e embrutecida com as escaladas do conflito no Vietnã e da violência racial nas cidades.... Nós, jovens, estávamos numa deprê daquelas... Tínhamos acabado de escutar o fim-do-mundo bater à porta, com a crise dos mísseis cubanos, e de ver o presidente mais jovem que a América tinha eleito até então ser destroçado por assassinos em rede nacional. Em breve, seríamos nós, os all american boys, que encarnaríamos assassinos e destroçados no verde explosivo das florestas do sudeste asiático... dura maneira de a geração baby boomer da white America perder a inocência, indeed... Como nação, estávamos, enfim, à deriva, doidos pra encontrar uma bóia em meio ao mar agitado e frio da História...

Mas naqueles dias, eu não sabia de nada disso, estava muito ocupado, sobrevivendo. E mesmo que soubesse alguma coisa, minha imaginação não seria páreo pra realidade que viveria em breve. O fato é que ninguém, nem o mais preparado intelectual, poderia suspeitar que essa tábua de salvação já estava a caminho dos USA naquele novembro de 1963. E então veio o maior furacão de alegria e histeria que já assolou a América...


2 comentários:

Anônimo disse...

QUE BOSTA QUE BLOG QUE FICOU AGORA ,BAIXAVA TUDO DAQUI AGORA TA UM COCO, SO NA LAGRIMA PSICODELICA MESMO, VOLTEM AO NORMAL POR FAVOR SEJEM MAIS CAMARADAS PRA QUEM EH MUSICO, VOCE SO DA BOLA PROS TOLOS, DA BOLA PRA QUEM TE QUER BEM, CAPRIXEM....

Ser da Noite disse...

Ainda bem que temos o Lágrima Psicodélica...